quinta-feira, 25 de junho de 2015

Os corações também se abatem.

nancy sinatra | bang bang

Li algures. Se te dissesse que deixei de escrever, mentiria. Procuro em cada palavra uma tábua de salvação. Para que o coração não morra. De pouco me serve. Os corações também se abatem. Quanto a isso nada a fazer. Voltei a ler. Sofregamente. Sempre à espera de uma história que me permita esquecer a minha. A ficção sempre supera a realidade, não achas? Continuo a preferir dramas, cenas tristes, tragédias e afins. Poesia que arde no peito. Julguei um dia ser capaz de escrever um poema de amor para ti. Que tonta fui. Devia saber de antemão que a mim só servem os caminhos difíceis. Ainda não aprendi. Voltei a ouvir música com a mesma vontade de antigamente - a prestar atenção a cada detalhe. Voltei a mim, a meter-me para dentro como um novelo de lã. Sei que não é boa ideia. Mas os corações também se abatem, é verdade. E tudo o que escrevo é melhor do que morrer. Tudo o que escrevo é lixo. Mas é meu. E o coração também, antes que me esqueça.

domingo, 21 de junho de 2015

Sabes o que é o amor?
























bon iver | skinny love

Eu sei que não virás. O quarto
seria este, estes os meus braços, aquela
a jarra com as flores.
Que lindo cachecol. O colete fica-te bem.
Sabes o que é o amor? Poder e não poder
dizer o teu nome sem que me rebente
dentro do estômago, dos intestinos, dos pulmões
a faca de infecções de que poderei morrer.

Joaquim Manuel Magalhães

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Toma nota















tori amos | losing my religion

A arte de perder não é difícil de se dominar;
tantas coisas parecem cheias de intenção
de se perderem que a sua perda não é uma calamidade.

Perder qualquer coisa todos os dias. Aceitar a agitação
de chaves perdidas, a hora mal passada.
A arte de perder não é difícil de se dominar.

Então procura perder mais, perder mais depressa:
lugares e nomes e para onde se tencionava
viajar. Nenhuma destas coisas trará uma calamidade.

Perdi o relógio da minha mãe. E olha! a última, ou
penúltima, de três casas amadas desapareceu.
A arte de perder não é difícil de se dominar.

Perdi duas cidades encantadoras: E, mais vastos ainda,
reinos que possuía, dois rios, um continente.
Sinto a falta deles, mas não foi uma calamidade.

- Mesmo o perder-te (A voz trocista, um gesto
que amo) não foi diferente disso. É evidente
que a arte de perder não é muito difícil de se dominar
mesmo que nos pareça (toma nota!) uma calamidade.

Elizabeth Bishop

sábado, 6 de junho de 2015

A música era esta

ben harper | i'll rise

you may write me down in history
with your bitter twisted lies
you may trod me down in the very dirt
and still like the dust i'll rise
does my happiness upset you
why are you best with gloom
cause i laugh like i've got an oil well
pumpin' in my living room
so you may shoot me with your words
you may cut me with your eyes
and i'll rise
i'll rise
i'll rise 
out of the shacks of history's shame
up from a past rooted in pain
i'll rise
now did you want to see me broken
bowed head and lowered eyes
shoulders fallen down like tear drops
weakened by my soulful cries
does my confidence upset you
don't you take it awful hard
cause i walk like i've got a diamond mine
breakin up in my front yard
so you may shoot me with your words
you may cut me with your eyes
and i'll rise
out of the shacks of history's shame
up from a past rooted in pain
i'll rise
i'll rise
i'll rise
Não é fácil resistir a tudo
o que nos roubam.
Tempo, memória, mundo.
Toleramos o insuportável
com insuportáveis venenos.
Até melhor ordem, se houver.

Noutras casas (lembro-me)
éramos mais, bebíamos
apressadamente a juventude.
Mas a vida - chamemos-lhe
assim - separa os que se juntam,
gosta de abismos fáceis.

Ao quinto ou sexto gin,
(lembras-te?) deitávamo-nos
a sorrir para as estrelas,
sobre o pano gasto do bilhar.

A música era esta.

Perdemos quase tudo.

Manuel de Freitas